De uma consumidora chega-nos a sugestão deixada numa grande superfície:“Aos
Responsáveis pelo Serviço de Informação ao Consumidor dos Supermercados Continente:
O assunto desta carta é acerca de um produto adquirido no supermercado Modelo do Lourel.
Espero que ela contribua para o vosso conhecimento da sensibilidade dos consumidores. O produto em causa é apenas uma embalagem com dois rolos de fita-cola da marca note it. Mas as pequenas coisas e os gestos banais do dia-a-dia têm, quase sempre, grandes implicações.
Quando inclui o artigo fita-cola na minha lista de compras, há cerca de um mês, tinha em mente adquirir fita-cola da marca Tesa film, em parte porque já tenho um desenrolador dessa marca, em parte porque têm embalagens só com um rolo, que para mim chega muito bem, mas sobretudo porque a fita-cola dessa marca nunca me desiludiu. Ou seja: não rasga ao desenrolar, tem uma espessura razoável, e tem uma ponta que torna fácil encetar o rolo.
Acontece que no dia em que fiz a compra não havia rolos Tesa film, só encontrei uns da marca note it, e meti-os no cesto de compras, sem reparar que são fabricados na China. Mais tarde constatei que, além da indicação “fabricado na China”, o código de barras começa por 560, referência que está conotada com o fabrico nacional, pelo que aproveito para chamar a vossa atenção e pedir um esclarecimento sobre esta aparente incongruência.
Tivesse eu reparado no país de origem do artigo e não o teria comprado, e passo a explicar porquê:
Além da notória falta de qualidade dos artigos chineses “baratos” que, no caso da fita-cola, se traduz por fita demasiado fina que se rasga ao desenrolar, tornando-se, assim, difícil de utilizar, ao comprar produtos feitos na China estou a deixar de alimentar as empresas nacionais e/ou comunitárias. Mas mais grave do que isso, embora no imediato não pareça, estou a alimentar uma indústria selvagem que não tem qualquer respeito pela Terra que pisa, nem pelas condições sanitárias das pessoas que fabricam esses produtos.
Quanto à frase inscrita no verso da embalagem “este produto foi submetido a um rigoroso controlo de qualidade realizado em laboratórios independentes”, parece tratar-se, neste caso, de uma mera formalidade.
Que controlo de qualidade é este? Não é certamente sobre a qualidade final do produto. Será sobre os processos de fabrico, ou sobre o impacto ambiental? “Se não ficar totalmente satisfeito devolveremos a totalidade do seu valor”.
Não vou fazer valer os meus direitos no que toca ao reembolso da importância dispendida, isentando assim os vossos serviços da devolução do mesmo, até porque provavelmente, ir-me-iam exigir um talão de compra que já não tenho. Vou, isso sim, fazer algumas sugestões tanto a V. Exªs como aos organismos (*) a quem vou dar conhecimento desta missiva. Assim sugiro:
- Maior oferta de produtos de qualidade nas prateleiras dos supermercados, porque o barato sai caro, e lojecas de chinês já há por aí muitas.
- Embalagens mais pequenas para que quem não tenha famílias numerosas não tenha que comprar mais do que realmente precisa num período razoável.
- Desinvestir em produtos sobre os quais não haja, da parte do fabricante, o cumprimento dos requisitos de minimização do impacto ambiental. Tenham presente que o lixo industrial produzido num só país, tão vasto e tão densamente povoado, acaba, mais cedo ou mais tarde por afectar todo o planeta. Da maneira como as coisas estão, dentro em breve, projectos louváveis como o vosso hipernatura não servirão de muito se ficarmos a olhar só para o nosso cantinho.
- Colocar a informação do país de fabrico de forma bem visível e inequívoca.
- Retirar das embalagens informações supérfluas que não passem de mera formalidade, como é o caso da afirmação “este produto foi submetido a um rigoroso controlo de qualidade realizado em laboratórios independentes (...)”. Não fica bem ao bom nome do grupo. Para aqueles produtos em que, eventualmente, até seja verdade, deviam mencionar concretamente quais os aspectos testados, que tipo de fiscalização é feito sobre o impacto ambiental, e, já agora, qual é o laboratório independente.
Quanto ao produto que originou esta exposição, como o desperdício me é algo penoso, vou resignar-me a usá-lo até me fartar, e só não o envio juntamente com a carta porque nem vale os portes que eu iria pagar pelo correio.”