29.Novembro.2017
Há falta de pessoal, falta de formação, falta de fiscalização e
falta de multas. Mais: é possível ter boas refeições nas escolas por
menos de 1,5 euros? Os resultados de uma investigação do Observador
“Ração para animais de jardim zoológico.” É assim que o cozinheiro Domingos da Silva e Costa descreve as refeições que, ao
longo de cinco anos, preparou para os alunos do Agrupamento de Escolas
Monsenhor Elísio de Araújo em Vila Verde, no distrito de Braga.
“Cozinhava para crianças dos 4 aos 18 anos, tínhamos infantários. Até me doía a consciência de mandar aquilo para as crianças, escolhia sempre as melhores partes para os mais pequenos…
Há colegas que fazem uma comida para a canalha e outra para elas, eu
não, eu comia o que fazia. E era o primeiro a provar: se na minha boca
não entrasse, não entrava na de mais ninguém”, garante o cozinheiro de
59 anos que, ainda assim, se orgulha de nunca ter provocado uma
intoxicação alimentar ao longo de 40 anos “de fogão”.
Entre
setembro de 2012 e junho deste ano, trabalhou para a Itau, empresa de
restauração coletiva do grupo Trivalor (que detém também a Gertal). Com
ambas as empresas a perderem nos concursos deste ano, válidos para o
próximo triénio, Domingos Costa deveria ter transitado para a Uniself, a
empresa vencedora na zona Norte e também no Alentejo e na região de
Lisboa e Vale do Tejo — só na zona Centro este serviço ficou a cargo de
outra firma, a ICA.
“As cantinas
mudam de concessionário mas os trabalhadores mantêm-se. Os que não são efectivos,
são despedidos sempre que há interrupções escolares e no final das aulas e
recontratados depois quando elas recomeçam.”
Francisco Figueiredo, do
Sindicato de Hotelaria do Norte
“As cantinas mudam de concessionário, mas os trabalhadores mantêm-se.
Os que não são efetivos são despedidos sempre que há interrupções
escolares e no final das aulas, e recontratados depois quando elas
recomeçam. O que está a acontecer com a Uniself é que muitos dos
trabalhadores foram empurrados para uma empresa de trabalho temporário, a
Multipessoal, e estão com contratos a tempo incerto”, explica ao
Observador Francisco Figueiredo, do Sindicato de Hotelaria do Norte.
A
passagem de trabalhadores de uma empresa para outra, garantem os
líderes sindicais contactados pelo Observador, é “normal” e tem sido
supervisionada pelo Ministério do Trabalho. No caso de Domingos da Silva
e Costa acabou por não acontecer. Depois de ter tratado de toda a
papelada e de ter até fornecido ao departamento de recursos humanos da
Uniself o seu número de farda, foi informado, dois dias antes de se
apresentar ao serviço, que afinal não iam contratá-lo. “Disseram-me
que foi a direção da escola que não me quis lá. Não sei se foi ou não.
Eu virava as ementas como podia e muitas vezes me recusei a fazer coisas
que achei impróprias. O peixe, por exemplo: queriam mandar-me
cação, com aquela cabeça cheia de espinhas, e carapaus. A canalha lá
arranja o peixe?! Dizia-lhes que ou me mandavam pescada em condições ou
filetes sem espinhas ou não confecionava os pratos. Claro que a empresa
não gostava, dava-lhes mais gastos”, refere.
(...)
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