Todos
os anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) elege um lema para
assinalar o Dia Mundial da Diabetes. Este ano, o tema escolhido foi
“Mulheres e Diabetes: o nosso direito a um futuro saudável”,
sensibilizando para o facto de a igualdade de género e o acesso à
inovação e à terapêutica ainda não serem uma realidade absoluta a nível
global. Em entrevista ao Vital Health, a endocrinologista Paula Freitas,
do Centro Hospitalar de São João (CHSJ), explica o tipo de complicações
associadas à diabetes na mulher, nomeadamente a diabetes gestacional.
Vital
Health (VH) | “Mulheres e Diabetes: o nosso direito a um futuro
saudável” foi o tema lançado este ano pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) para assinalar Dia Mundial da Diabetes. Que razões considera
estarem subjacentes à escolha deste tema?
Paula Freitas (PF) |
Em primeiro lugar, não gosto nada de “dias da mulher”, porque num mundo
perfeito, se a igualdade de género fosse uma realidade em todas as
sociedades, não havia esta necessidade. Mas a realidade é bem diferente.
Mesmo nas ditas sociedades ocidentais e nos países mais desenvolvidos, a
igualdade de género ainda não é uma realidade absoluta. Isto para não
falar dos países em que as mulheres não têm quaisquer direito. Portanto,
percebo que a OMS se preocupe com a situação da mulher no mundo e da
mulher com diabetes, em particular da mulher com diabetes gestacional.
Talvez tenha sido isto o que esteve subjacente à escolha deste tema.
VH | Qual o panorama da diabetes no género feminino em Portugal?
PF |
Em Portugal, a prevalência da diabetes, segundo os dados do
Observatório Nacional da Diabetes de 2016, na população entre os 20 e os
79 anos, é de 13,3%, sendo de 10,9% nas mulheres e 15,9% nos homens.
VH | Que tipo de complicações estão associadas à diabetes, nomeadamente nas mulheres?
PF |
A diabetes é uma doença sistémica que pode atingir todos os órgãos e
sistemas do organismo. Está associada a complicações tardias ou
crónicas, que vão desde a retinopatia diabética (que pode originar
cegueira), nefropatia (que nas suas fases tardias leva à necessidade de
fazer tratamento com diálise), neuropatia (doença que pode atingir desde
o sistema digestivo, urinário, cardiovascular e os membros inferiores),
acidentes vasculares cerebrais, enfarte do miocárdio, pé diabético,
amputações dos membros inferiores e disfunção sexual, entre outras.
Quero
destacar algumas particularidades relativamente às complicações da
diabetes na mulher. Em primeiro lugar, o facto de o impacto da diabetes
no risco de morte por doença coronária ser significativamente superior
nas mulheres comparativamente com os homens. Na população geral, isto é,
nos indivíduos sem diabetes, a doença cardiovascular desenvolve-se
cerca de sete a 10 anos mais tarde nas mulheres do que em homens, mas
ainda sim é a principal causa de morte em mulheres. E o risco de doença
cardíaca nas mulheres é muitas vezes subestimado devido à perceção
errônea de que as mulheres estão "protegidas" contra doenças
cardiovasculares. O baixo reconhecimento das doenças cardíacas e as
diferenças na apresentação clínica em mulheres conduzem a estratégias de
tratamento menos agressivas e a menor representação de mulheres em
ensaios clínicos. Podemos constatar que nos últimos grandes ensaios
clínicos de outcomes cardiovasculares na diabetes, como o
TECOS, SAVOR, EXAMINE, LEADER, EMPAREG, EXSCEL, entre outros, a
percentagem de homens incluídos é na ordem dos 70% e apenas cerca de 30%
de mulheres. Além disso, a autoconsciência das mulheres e a
identificação dos seus fatores de risco cardiovascular precisam de mais
atenção, o que poderá resultar numa melhor prevenção de eventos
cardiovasculares.
VH
| Até 70% dos casos de diabetes tipo 2 podem ser prevenidos com
alterações no estilo de vida, sendo que as mulheres têm uma grande
influência nas escolhas do estilo de vida da família. Que tipo de
hábitos devem as mulheres adotar e fomentar no seio familiar?
(...)
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